O Palácio da Liberdade foi construído como ícone de um ideal republicano e, além de símbolo do poder e da política, agregou em sua trajetória a função de bem cultural.
Decorado ao gosto eclético característico das edificações da cidade de Belo Horizonte na época de sua construção, apresenta todos os tipos de elementos artísticos sobre diversos suportes: pinturas parietais, tetos decorados – em papier-collé ou pinturas sobre reboco e telas, relevos em estuque e gesso, pisos parquetados, portas entalhadas, vitrais, elementos em ferro fundido, acabamentos em mármores e granitos e, nas coberturas, elementos prensados em folhas de Flandres. Todos esses elementos sofreram perdas, desgastes, descaracterizações e redecorações ao longo do tempo.
Numa restauração de grande âmbito, que focaliza todo um conjunto, como é o caso dos bens integrados ao edifício do Palácio da Liberdade, além da abordagem dos problemas técnicos a serem solucionados, deve-se ter uma visão conceitual do conjunto e do resultado a ser contemplado. Desde a feitura do projeto até a execução das intervenções, a interdisciplinaridade das profissões de restaurador, arquiteto e historiador atuou de modo a equacionar as funções que constituem o bem cultural: testemunhos históricos, sentidos estéticos e afetivos, uso ativo e função museológica, sem agredir os atributos físico-químicos dos elementos, evitando que se tornem um simulacro.
Consideradas todas essas questões, o enfoque foi a década de 20, período da visita dos reis belgas a Belo Horizonte, quando o Palácio passou por uma redecoração e complementação das áreas não decoradas na época da inauguração. Com o passar dos anos, outras reformas e decorações foram se superpondo às antigas, até chegarem ao número de 7 a 13 camadas de repinturas sobre as originais, escondendo boa parte dos trabalhos decorativos, com acréscimos e modificações estruturais.
Em virtude de tantas intervenções, uma completa homogeneidade de época não foi possível, mas foi proporcionada uma leitura íntegra dos elementos decorativos, de suas várias fases e, ao mesmo tempo, didática, com prospecções deixadas para revelar as camadas de pintura retiradas e as que ainda se encontram resguardadas abaixo.
Todas as intervenções foram realizadas com rigor técnico, buscando o resgate histórico sem deixar de contemplar os bens agregados e a harmonia estética. Outro aspecto importante de toda restauração e também presente nessa, é a valoração dos ofícios, das técnicas e dos materiais empregados originalmente, sintonia e que passam a conviver em sintonia com os novos materiais e técnicas inseridos.