Oficina de Oratória
As oficinas de oratórios realizadas pelo Grupo Oficina de Restauro, na cidade de Santa Bárbara/MG, pelo Programa Petrobras Cultural em seus dois primeiros módulos, contemplaram um total de cinquenta e seis alunos do ensino médio da Escola Estadual Afonso Pena e quatro integrantes da Sociedade dos Artesãos de Santa Bárbara. As duas primeiras oficinas aconteceram entre os dias 18 e 29 de outubro de 2004, enquanto a terceira e a quarta foram ministradas no período compreendido entre os dias 29 de novembro e 10 de dezembro do mesmo ano.
O critério de seleção adotado pela diretoria da Escola Estadual Afonso Pena na escolha dos alunos para as oficinas foi o do sorteio, tendo em vista o grande número de estudantes interessados em participar do curso. A inclusão de quatro integrantes da Sociedade dos Artesãos de Santa Bárbara ocorreu por intermédio da Associação dos Amigos de Santa Bárbara (ASSASB), que, juntamente com o Museu do Oratório de Ouro Preto, participa como interveniente do projeto
“Oficina de Oratórios”.
Ao final do terceiro módulo, haverá uma exposição com os trabalhos produzidos nas seis oficinas, em espaço público de Santa Bárbara, possivelmente na Casa de Cultura.
Teoria – As aulas teóricas tiveram como objetivo a compreensão do significado do patrimônio artístico, histórico e cultural, esclarecendo a diferença entre bens tangíveis e intangíveis, e a importância da memória cultural de uma nação. Foram historiadas a fundação e a atuação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e as diversas instituições de preservação existentes no país, com alguns exemplos de bens tombados no Brasil e, especialmente, no estado de Minas Gerais. A UNESCO, os títulos de “Patrimônio da Humanidade” e as nossas cidades às quais eles foram atribuídos como Ouro Preto, Congonhas e Diamantina, foram apresentados aos alunos. Por fim, foram estudadas as diferenças estilísticas entre o barroco e o rococó, e mostrada a diversidade de formas, estilos, técnicas de fabricação, utilização de materiais e classificação da coleção que abriga o Museu do Oratório da cidade de Ouro Preto.
As exposições foram feitas utilizando-se de slides, data show e visitas à Matriz de Santo Antônio, na cidade de Santa Bárbara.
Aula prática – as aulas práticas foram iniciadas com a distribuição de apostilas contendo dados técnicos e receituário pertinentes a todas as etapas do curso. Os processos foram demonstrados pelos professores e, em seguida, experimentados pelos alunos, cada um em sua peça. Dessa forma, eles puderam identificar dificuldades e problemas na execução dos trabalhos e, ao mesmo tempo, aprenderam soluções. O fato de cada um executar um projeto individual também permitiu que muitas técnicas fossem conhecidas e enriqueceu a diversidade das informações.
As aulas práticas constaram de:
Marcenaria – as aulas de marcenaria tiveram como referência primordial a amostragem dos variados tipos de madeira existentes, com suas características básicas e destaque para as mais utilizadas no período colonial. Também foram consideradas as técnicas de confecção de oratórios, tais como os diferentes tipos de fixação e colagem, bem como explicados os agentes de degradação da madeira. Finalmente, foram mostrados alguns materiais e técnicas empregados nas imunizações preventivas contra ataques de insetos xilófagos.
Bases de preparação – exemplos de bases utilizadas nos séculos XVIII e XIX (conforme anexo), sugestões de materiais e técnicas atuais. Demonstração e aplicação nos oratórios de madeira de base preparada passo a passo, desde a diluição de colas proteicas (cola de cartilagem de boi e de coelho) em banho-maria ou sua substituição por colas sintéticas, estas sendo adicionadas a cargas ― gesso, carbonato de cálcio, caolin e pigmentos brancos. Em seguida, aplicação em camadas finas com espátulas e/ou pincel. Para a finalização, nivelamento com lixas d´água.
Pintura – fórmulas para o preparo de tintas dos séculos XVIII e XIX (conforme anexo). Foram selecionadas quatro receitas ― uma delas bem básica, só de gema e água, que foram escritas no quadro negro servindo de referência para todas as aulas de pintura. Os alunos experimentaram e escolheram, entre essas opções, uma para desenvolver o seu projeto. Assim, todos puderam ver resultados distintos.
Douramento – fórmulas de douramento dos séculos XVIII e XIX (conforme anexo). As técnicas de douramento permanecem inalteradas desde períodos muito antigos e constam de aplicação de folha de ouro sobre base de preparação e bolo armênio. Os equipamentos ― como o coxim de couro, a faca de dourador e os pincéis macios ― foram utilizados por todos. Cada um teve acompanhamento individualizado na aplicação do seu douramento. A técnica do esgrafito foi mais um dos efeitos utilizados. A sugestão de folha de ouro falso, de custo muito inferior, e a utilização de bolo armênio preparado com óxido de ferro foram também orientadas de forma a viabilizar projetos futuros.
Vernizes – fórmulas de vernizes dos séculos XVIII e XIX (conforme anexo) e apresentação de produtos pré-fabricados que podem ser encontrados atualmente no mercado. Técnicas de aplicação de vernizes e o simples polimento da tinta ― recurso possível nesse caso ― foram apresentadas como opção de acabamento para os trabalhos.
O resultado obtido foi além do imaginado, uma vez que todos os alunos concluíram as suas tarefas com habilidade e dedicação e absorveram com extremo interesse as informações apresentadas durante as oficinas.
É importante registrar que, diante de expectativas distintas, alguns alunos se interessaram mais por um aspecto ou outro do curso, seja dedicando-se às tarefas de execução técnica e manuseio dos materiais, seja concentrando-se com maior afinco nas informações apresentadas sobre o histórico da sua cidade ou pelas questões pertinentes ao patrimônio histórico, artístico e cultural do país.
Um aspecto de alta relevância para a capacitação dos alunos da “Oficina de Oratórios” diz respeito ao conhecimento do seu patrimônio histórico, artístico e cultural, de forma que os interessados possam estar aptos a engajar-se no Projeto da Estrada Real, patrocinado pelo Governo do Estado de Minas Gerais, com apoio da FIEMG, cujos resultados, uma vez alcançados com a ampliação do turismo nas cidades históricas mineiras, necessitarão de pessoal treinado para atendimento ao público visitante. Apesar das oficinas não terem necessariamente o caráter específico para treinamento de guias turísticos, o seu conteúdo permite ao aluno inteirar-se sobre as sutilezas das artes exercidas em sua cidade nos séculos passados.
O Grupo Oficina de Restauro, em seus vinte e dois anos de experiência na intervenção das igrejas e objetos artísticos barrocos, tem se dedicado ao recolhimento de informações sobre técnicas artísticas, hoje quase desaparecidas, como a pintura a têmpera de ovo (amplamente utilizada pelos artistas do período colonial em Minas e em todo Brasil), bem como do douramento brunido (técnica tradicionalíssima desde os períodos mais remotos, na Europa e mesmo no Oriente, que ainda não conseguiu ser superada, em seus métodos, com resultado similar). Como restauradores, entendemos que o conhecimento de técnicas e receitas tradicionais ― que foram utilizadas por artistas do gabarito de Mestre Ataíde (pintor do século XVIII em Minas Gerais, responsável pela decoração da Matriz de Santo Antônio, de Santa Bárbara) ― faz parte de nossa atuação profissional, além do resgate e da difusão desse aprendizado.
Mesmo porque além da fácil utilização de tinta – cuja receita mais simples é composta apenas de gema de ovo e água associada ao pigmento. Lembrando ainda que pigmento no território mineiro – dos minérios – a terra ferrosa é puro pigmento. Isto é bem enfocado para os alunos, de forma que o uso não se mostre algo distante ou difícil, mas ao contrário, que o material lhes é de fácil acesso. Eles se quiserem, estarão aptos a realizar pintura sobre madeira em geral, inclusive decoração de mobiliário ou de outros objetos.
Acreditamos que a grande oportunidade desse grupo de estudantes, com as oficinas ministradas, passa pela sua capacitação como gerador de renda, o que tem sido um grande problema para as novas gerações das pequenas cidades históricas de nosso estado, como tem ocorrido com a cidade de Santa Bárbara. E realçando o fato de que esses meninos terão a oportunidade, ao mesmo tempo, de participarem do mercado de trabalho, manterem-se envolvidos em um projeto cultural e de criação artística.
Professores do Grupo Oficina de Restauro:
- Adriano Reis Ramos
- Maria Regina Reis Ramos
- Rosangela Reis Costa
Professores auxiliares:
- Paulo Henrique Senra
- Fernanda Alves Guerra
Responsáveis pela Escola:
- Marcos Vinícius Guimarães: Diretor da Escola Estadual Afonso Pena
- Sônia Rodrigues Nunes: Vice-Diretora da Escola Estadual Afonso Pena
- Flávia Maria Morais: Vice-Diretora da Escola Estadual Afonso Pena