Arte e Devoção

Em maio de 2005, com pesquisa, elaboração dos textos e montagem sob a responsabilidade do Grupo Oficina de Restauro foi levada ao público na sala multiuso do Jornal Estado de Minas, na cidade de Belo Horizonte, uma exposição de imagens de Sant´Anas pertencentes à colecionadora Ângela Gutierrez.

 

Designação: Santana Mestra Autoria: Ignorada Data de execução: Século XVIII Origem: Minas Gerais Material/Técnica: Madeira esculpida e policromada.

 

Dimensões:   

Altura………….. 96 cm   

Largura……….. 46 cm   

Profundidade….. 26,5 cm   

Peso…………… 29,8 Kg

Descrição

Sant’Ana está sentada, em posição frontal, com a cabeça erguida e o olhar direcionado para baixo. Nossa Senhora menina está em pé, à esquerda da mãe, com a parte superior do corpo levemente projetada para frente. Ambas seguram livro aberto e inclinado sobre o colo de Sant’Ana, que envolve a filha com o braço esquerdo. Os panejamentos são movimentados e sinuosos. O pequeno banco sobre o qual Sant’Ana apoia o pé esquerdo destaca-se na composição. A cabeleira da menina é comprida, resolvida em forma de coque na parte posterior da cabeça. A cadeira tem espaldar alto, com remate superior decorado com volutas e angras, e almofada pintada de vermelho. Os pés apresentam-se em volutas. A base é sextavada e pintada de vermelho.

Análise Estilística

Obra com características do século XVIII, configuradas na composição bojuda, na acentuada movimentação da indumentária, na expressividade das feições das figuras e na presença da cadeira em estilo D. João.


Características Estilísticas

O estudo da evolução estilística das esculturas sacras produzidas no Brasil entre os séculos XVII e XIX ainda é incipiente, em virtude da falta de uma documentação mais abrangente sobre as características dos artistas que atuaram no país no período – anônimos em sua maioria – e das dificuldades para se detectarem as peculiaridades das micro regiões e suas respectivas fases de produção.

Contudo, graças ao conhecimento de obras das escolas tradicionais da escultura brasileira – como as da Bahia, de São Paulo e Pernambuco, conjugado com estudos elaborados ao longo dos anos por diversos especialistas sobre a imaginária produzida em território mineiro, hoje é possível classificar tipológica e morfologicamente grande parte do conjunto de obras produzidas em solo brasileiro.

Diferenças Regionais

As capitanias do Rio de Janeiro e das Minas do Goiás, bem como a Companhia Geral do Grão Pará e Maranhão também se destacaram na produção de imagens sacras com representações caracteristicamente regionais.

Maranhão

São Paulo

Goiás

Minas Gerais

Bahia

Rio de Janeiro

Pernambuco

Espaldares

Especificamente nas representações de imagens de Santana, a cadeira que a acompanha é uma referência importante para a sua classificação, pois a decoração de seus espaldares apresenta traços estilísticos significativos, principalmente nos períodos barroco e rococó. 

Proto Barroco

No século XVII as características mais marcantes da estatuária produzida na colônia configuram-se na composição vertical, na postura rígida das cabeças, cujas expressões, embora graves e marcantes, não são teatrais. Também os sulcos verticalizados nos panejamentos são típicos do período.

O Barroco

Grande parte do século XVIII será dominada pela explosão barroca, cujas imagens se caracterizam pela composição rica, bojuda, sinuosa, com panejamento artificial, excessivamente movimentado com suas formas esvoaçantes. As cabeleiras são elaboradas, trançadas de forma rebuscada e às vezes até com laços de fita. A policromia tem tonalidades fortes e é variada, apresentando farto douramento, seja através do estofamento total com esgrafiados ou apenas mancheteados, bem como pastiglios, punções e rendas metálicas.

O Rococó

No período rococó, absorvido em terras brasileiras a partir do segundo quartel do século XVIII, a escultura sacra tem como principais características a leveza, a ascendência e a assimetria. O eixo central da composição se direciona da cabeça ao pé esquerdo e o manto é diagonalizado. Na policromia, mais contida, surgem as rosas de malabar, e os tons das cores se tornam mais claros.

 O Neoclássico

Com as devidas exceções dos artistas oitocentistas que ainda incorporavam os padrões vigentes nos estilos barroco e rococó, a escultura sacra no século XIX será marcada pelo neoclassicismo, inspirado na arte greco-romana. A composição retorna à verticalidade, as expressões se apresentam mais ingênuas e o panejamento perde em movimentação comparado aos estilos anteriores. Podem ser observadas, destacadamente no século XX, reinterpretações de outros estilos ou novas incursões na concepção de imagens feitas por artistas de cunho popular.

Bolo de Noiva

Escola paulista de meados do século XVIII, cujos similares são denominados “bolo de noiva”, em virtude do acentuado rebuscamento plástico e autenticidade compositiva.
Material e Técnica: Terracota policromada
Terracota: Argila modelada e cozida em forno.

Piranga

As esculturas sacras confeccionadas no vale do Piranga, MG, principalmente durante o século XIX, incorporam uma mensagem plástica que é de extrema originalidade. Em virtude desta autenticidade, o conjunto de obras ali produzidas recebe a denominação de “Mestre Piranga”. Exercida com maestria, esta arte de cunho popular demonstra a maleabilidade do estilo barroco em uma região de povoamento remoto, cujas localidades comportam nomes curiosos como Bacalhau, Manja-Léguas, Noruega e Calambau.

Miniaturas

As imagens em miniaturas, em sua maioria, eram confeccionadas para se adaptar a oratórios ou ser utilizadas como objetos devocionais independentes. Poderiam também servir como mostruário nas tendas dos artistas do período colonial para eventuais encomendas ou mesmo ser usadas como modelo de escala para a produção de obras maiores. 

Santas Mães

Denominação de caráter religioso que se dá ao conjunto representado pelas figuras de Santana, Nossa Senhora e menino Jesus. O referido conjunto é também intitulado Sacra Conversação.

Santana Mestra e Santana Guia

De acordo com alguns especialistas a representação da imagem de Santana de pé, segurando Nossa Senhora menina, retrata a camponesa do sul de Portugal, historicamente adotada em maior escala pelos artistas e artesãos do nordeste brasileiro. Acostumada ao trabalho pesado, ela apresenta semblante mais severo, seja guiando a filha ou transmitindo o conhecimento no percurso da caminhada.  Por outro lado, a figura de Santana sentada, ensinando Nossa Senhora as primeiras lições, representa a cultura do povo que habita o norte português, e que emigrou para a capitania das Minas com seu fervor religioso e sua expressão doméstica.

Santana Mestra
Santana Guia

Minas Gerais e Bahia

Com o arrefecimento da intensa produção escultórica ocorrida no século XVII em Pernambuco e São Paulo, as capitanias da Bahia e Minas Gerais tornaram-se os mais importantes centros produtores de imagens religiosas do país nos séculos XVIII e XIX. Com características próprias e bem definidas, as imagens baianas configuram-se pela presença no panejamento de grandes flores douradas na técnica denominada mancheteado e pelo vibrante colorido da decoração pictórica. Em Minas Gerais, a fatura de imagens alcançou alto grau de peculiaridade, caracterizada principalmente pelas acentuadas angularidades das arestas, a severidade das faces, a uniformidade das cores, a economia de ornatos na decoração policromática e, ainda, a parcimônia no uso de douramentos.   

Santana Baiana
Santana Minas Gerais

Nº de Inventário: AG/SA/2000/0182

Conjunto cenográfico de origem baiana constituído pelas figuras de Santana, São Joaquim e Nossa Senhora menina, que pode ter por denominação a “Sacra Parentela” ou a “Sagrada Família”.